Nada lhe contentava, nada o inquietava: nem olhar pro céu dava, nem estrela Dalva. Incomodava-o o fato de rosas serem vermelhas ou brancas quando não, até mesmo, lilás: “mas como pode?, se afinal eram “rosas”...” Procurava antenas em lagartixas e gozava das moscas, pois, mesmo tendo aqueles grandes olhos, voavam tão rápido que nem tinham tempo de apreciar a paisagem ao redor... Preferiam passear sobre as fezes e ao redor do lixo mal cheiroso! Entendia assim, talvez, o porquê dos humanos não nascerem com asas... Enxergava as formigas como um grande exército marchando de um canto a outro e, às vezes, sua imaginação ia até mais longe: “ As vezes somos também formigas, sempre no piloto automático...”. Refletia, pensava, procurava o que não havia perdido e se perdia em suas conclusões. “Chique mesmo é quem mora no chiqueiro” dizia ele com convicção. Via os peixinhos no aquário e seu balé em metros cúbicos – achava um absurdo peixe fora do mar, “afinal há mar ou não há mar? será que não gostavam do sal? Ou seria o sol que os afetava?” Tantas interrogações deixava-o confuso, e ele se esquecia de interrogar sobre suas questões. Importava-se tanto com outros tantos assuntos e esquecia-se de ser um tanto mais... Percebeu que estava tornando-se como as moscas que antes observava – tão corridos eram seus dias e ele não observava a paisagem de sua vida... Ou quando se olhava no espelho e via-se uma formiga em seu piloto automático: “acorda, levanta, come, trabalha, come, dorme... pague aqui, espere ali, siga em frente”. Muitas vezes gelado como uma lagartixa, também não possuía antena, não se comunicava, não se expressava. Tinha pressa como um peixe em seus metros cúbicos: “há mar ou não há mar?” Dançava sua música d'água e batia a cabeça no vidro invisível de seu aquário, donde não conseguia escapar.
Abstratava assuntos, discordava de tudo e de todos, acabava por se enforcar em suas cordas vocais... O menino morria um pouco mais a cada dia, o sal escorria pelo seu rosto e não havia sol, seus grandes olhos de mosca o faziam ver o que não queria e seu espelho lhe indicava doenças. “Mas como pode?” - dizia ele, já exausto... A previsão de tempo mostra tempestades em copos d'água, em xícaras e em garrafas. A tristeza já lhe era hospedeira, arrendava seu corpo e não pagava o aluguel para o coração. O sal escorria por seu rosto e não havia sol... Aos poucos o menino se tornava uma besta feroz: refletia, pensava, procurava o que não tinha perdido e se perdia mais em suas conclusões!
1 comentários:
oi moçoooo
gostei dos teus posts,
bem legais de ler viu.
Beijos.
By: Marcella Gomes
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