domingo, 28 de novembro de 2010

Rastejava, sentia-se a mais inferior dos insetos. Poucos compartilhavam de apreciar sua forma estranha, sua “rara beleza”. Tortamente rastejava. Não fedia nem cheirava... Não sabia se era inseto, larva ou micróbio evoluído. Resistia em sua busca rastejante e torta sempre indagando sobre sua existência. Dividia com as flores e com as ramas um pouco de suas poucas cores e também sua solidão, sua camuflagem... O vento lhe agradava e dentro de sua forma estranha havia uma grande vontade de ventaniar também. Admirava a imensidão de cor anil, que, para ela, era inexplicável. Observava ao seu redor os voadores, muitos de muitas patas, outros tantos munidos de ferrões.
E Ela apenas rastejava... sentindo-se a mais inferior dos insetos – lagarta largada à sua natureza desconhecida. Dentro de sua forma estranha repousava algo em comum, rojava-se em busca de respostas e dividia com o mundo suas poucas cores.
Porém, tantas formas estranhas, tanta busca incomum fez com que a lagarta [meio larva e micróbio] aprendesse toda a pedagogia da terra – filos, logias, temáticas temporais... As luzes do céu eram mais fortes e assim agora ela não mais rastejava, passou a viver encasulada dentro de suas descobertas e aquilo que lhe repousava de incomum veio a aflorar. Metamorfa – tudo o que aprendera se transformava em cores que a ornamentava. Um raio de sol brilhou mais forte e seu conhecimento lhe proporcionou asas. Assim, voando à vontade, ventaniando ia ela para anunciar uma nova aurora colorida: ensinava folhas, flores, galhos, frutos e os ao seu redor. Todos reparavam em sua rara existência. Antes lagarta [meio larva e micróbio], hoje metamorfa borboleta colorida. Dividia com o mundo suas mais belas cores

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Nada lhe contentava, nada o inquietava: nem olhar pro céu dava, nem estrela Dalva. Incomodava-o o fato de rosas serem vermelhas ou brancas  quando não, até mesmo, lilás: “mas como pode?, se afinal eram “rosas”...” Procurava antenas em lagartixas e gozava das moscas, pois, mesmo tendo aqueles grandes olhos, voavam tão rápido que nem tinham tempo de apreciar a paisagem ao redor... Preferiam passear sobre as fezes e ao redor do lixo mal cheiroso! Entendia assim, talvez, o porquê dos humanos não nascerem com asas... Enxergava  as formigas como um grande exército marchando de um canto a outro e, às vezes, sua imaginação ia até mais longe: “ As vezes somos também formigas, sempre no piloto automático...”. Refletia, pensava, procurava o que não havia perdido e se perdia em suas conclusões. “Chique mesmo é quem mora no chiqueiro” dizia ele com convicção. Via os peixinhos no aquário e seu balé em metros cúbicos – achava um absurdo peixe fora do mar, “afinal há mar ou não há mar? será que não gostavam do sal? Ou seria o sol que os afetava?”      Tantas interrogações deixava-o confuso, e ele se esquecia de interrogar sobre suas questões. Importava-se tanto com outros tantos assuntos e esquecia-se de ser um tanto mais... Percebeu que estava tornando-se como as moscas que antes observava – tão corridos eram seus dias e ele não observava a paisagem de sua vida... Ou quando se olhava no espelho e via-se uma formiga em seu piloto automático: “acorda, levanta, come, trabalha, come, dorme... pague aqui, espere ali, siga em frente”. Muitas vezes gelado como uma lagartixa, também não possuía antena, não se comunicava, não se expressava. Tinha pressa como um peixe em seus metros cúbicos: “há mar ou não há mar?” Dançava sua música d'água e batia a cabeça no vidro invisível de seu aquário, donde não conseguia escapar.
 Abstratava assuntos, discordava de tudo e de todos, acabava por se enforcar em suas cordas vocais... O menino morria um pouco mais a cada dia, o sal escorria pelo seu rosto e não havia sol, seus grandes olhos de mosca o faziam ver o que não queria e seu espelho lhe indicava doenças. “Mas como pode?” - dizia ele, já exausto... A previsão de tempo mostra tempestades em copos d'água, em xícaras e em garrafas. A tristeza já lhe era hospedeira, arrendava seu corpo e não pagava o aluguel para o coração. O sal escorria por seu rosto e não havia sol... Aos poucos o menino se tornava uma besta feroz: refletia, pensava, procurava o que não tinha perdido e se perdia mais em suas conclusões!
 

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